domingo, 5 de maio de 2013

A arte dos contadores de histórias



Ouvir e contar histórias... 
• Desenvolve a imaginação. 

• Resgata a cultura oral e incentiva a escrita. 

• Proporciona momentos lúdicos e de interação.

Neste vídeo, você acompanha atividades de uma oficina sobre contação de histórias, realizada no projeto Letras de Luz, programa de incentivo à leitura mantido pela Fundação Victor Civita e a Energias do Brasil.


Professora de 3ª série de São Caetano do Sul e alunos de 1ª a 5ª série de Porto Alegre proporcionam a ouvintes atentos um encontro mágico com a literatura

Quando Enrica nasceu, na cidade de Belém do Pará, as mulheres ainda usavam vestidos compridos, lindos. Os pais da menina eram imigrantes europeus. Ela era lindinha, mas levada. Por pura rebeldia, Enrica resolveu fugir de casa com Idalina, garota escrava, sua grande companheira. Idalina contara a Enrica a lenda do boto do rio..." A história sobre o animal que se transforma num belo moço, adaptada do livro Mata: Contos do Folclore Brasileiro, de Heloísa Prieto, foi contada por Vivian Munhoz Rocha aos alunos da 3ª série da Escola Villare, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Enquanto ouviam a voz vibrante da professora, os pequenos pareciam viajar para um mundo distante. 

                      Vivian conta a história do boto para a garotada: atenção e encantamento. Foto: Daniela Toviansky

Contadora de histórias desde 1998, com mestrado na área, Vivian afirma que seu desafio é cativar crianças acostumadas às linguagens dinâmicas da TV e do videogame. "É necessário mergulhar no que está sendo contado para criar além do texto e enriquecer a atividade atraindo os ouvintes", explica. Ela faz questão de que a atividade seja parte da rotina escolar e não entre somente como um tapa-buraco. A narração proporciona experiências lúdicas e de aprendizado pelo contato que os alunos têm com a tradição da palavra falada e as diferentes culturas por trás das narrativas. "Quando eu gosto da história, vou pegar o livro para ler depois", conta Enrico Mirabili, 9 anos. 

Após a invenção da imprensa, a narrativa oral perdeu o status de principal maneira de transmitir saberes. No entanto, há sociedades - como as indígenas - que durante séculos utilizaram apenas a palavra falada para manter sua cultura, geração após geração. Sabe-se hoje que cada forma de passar o conhecimento tem funções diferentes. O livro é valorizado como objeto e veículo de aprendizagem, e o texto escrito se apresenta como uma forma de arte própria, que estimula o domínio de uma técnica diferente daquela utilizada ao falar. Já no ato de contar histórias, ressaltam-se o improviso, a cultura constituída na língua do dia-a-dia e a interação com o público. Um não é melhor que o outro. "Ler e contar podem igualmente ser seqüências monótonas de palavras que não produzem um efeito significativo se quem narra não imprime vivacidade e veracidade à cadência da história", aponta Regina Machado, contadora de histórias e professora da Universidade de São Paulo.

Criança também conta 

Thanira Chayb Pillar, professora de biblioteca da EM Vereador Carlos Pessoa de Brum, em Porto Alegre, integra um projeto da prefeitura que incentiva a narração de histórias pelos alunos. Neste ano, o grupo - que se reúne uma vez por semana - é formado por estudantes de 1ª a 5ª série. Qualquer um pode se juntar a eles. Com os livros em mãos para se sentir mais seguros, os contadores vencem as dificuldades para acertar o tom e a altura da voz, a interpretação e a memorização. 

A professora orienta sobre os aspectos técnicos e ajuda na interpretação do conteúdo. Os estudantes escolhem os livros e, usando a expressão corporal e facial, narram uns para os outros. Thanira corrige tom de voz, ritmo, pronúncia e postura antes, durante e depois da narração. "Com o treino, eles se soltam e ganham habilidade", conta. "Resolvi participar com meu irmão e foi legal porque fiz novos amigos e me interessei mais pelos livros", afirma Djuly Dessauer, 9 anos. 
Clarice Santos Reis, professora de Língua Portuguesa da 5a série, afirma que os participantes do grupo ganharam fluência verbal e passaram a produzir textos mais ricos. "Eles se tornaram referências dentro da classe na hora de indicar livros aos outros." 

PASSO A PASSO Para cativar a platéia 
• Gilka Girardello, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, dá orientações a quem quer se tornar craque na contação de histórias. 

• Faça uma seleção de títulos que despertem em você a vontade de passá-los aos alunos. É importante abrir o universo deles para diferentes narrativas, com temas como a vida e a morte, nossa origem e a humanidade, além de mitos. 

• Para se familiarizar com a narrativa, treine contando para amigos e familiares 

• Comece a narrar para grupos menores, enquanto você conhece as suas possibilidades. Reúna os ouvintes em roda para que eles se sintam próximos de você. 

• Escolha recursos, como desenhos, bonecos, músicas e movimentos de dança, com os quais você se sinta mais à vontade. 

• Use elementos expressivos, como imitação de vozes e movimentos com as mãos (estalar de dedos e palmas). Empregados na hora certa, eles fazem a diferença. 

• Imagine os detalhes de todas as cenas e descubra a melhor maneira de entoar cada trecho (sem se preocupar em decorá-las). 

• Preste atenção em alguns refrões ou frases de impacto que podem ser repetidos sempre do mesmo jeito - porque são bonitos ou soam bem. 

• Quanto mais a história for contada, maior o número de novas imagens que são incorporadas a cada cena. Esta é a peculiaridade da oralidade: cada um recria o conto. 

• Projete a voz na sala e amplie os gestos para que o público não se disperse. Quando o enredo pedir um tom mais suave, todos entenderão o recurso e farão silêncio para ouvir. 

• Antes ou depois da narração, conte de onde vem a história: de um livro, de um filme, da mitologia grega ou se aconteceu com alguém conhecido. Assim, a turma fica sabendo que também pode passá-la adiante. 

• Ignore as peraltices de alguns e conte a história para o resto da classe. Se alguma coisa que os bagunceiros fizerem permitir, vale incorporá-la à performance, sem quebrar o clima da história. 

• Contar histórias sempre envolve alguns imprevistos. O importante é não ter medo. Geralmente, as crianças querem que a narração prossiga. Então, elas vão ajudar você. 

DÉBORA DIDONÊ



Quer saber mais?
CONTATOS

Escola Villare
, R. Piauí, 876, 09541-150, São Caetano do Sul, SP, tel. (11) 4229-5253

EM Vereador Carlos Pessoa de Brum, R. da Abolição, s/no, 91790-130, Porto Alegre, RS, tel. (51) 3250-1698

BIBLIOGRAFIA

Acordais - Fundamentos Teórico-Poéticos da Arte de Contar Histórias
, Regina Machado, 232 págs., Ed. DCL, tel. (11) 3932-5222 , 31 reais

A Palavra do Contador de Histórias, Gislayne Avelar Matos, 203 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677 , 39,40 reais

Mata: Contos do Folclore Brasileiro, Heloísa Prieto, 64 págs., Ed. Companhia das Letrinhas, tel. (11) 3707-3500 , 30 reais

Magia e Técnica, Arte e Política, Walter Benjamin, 256 págs., (capítulo O Narrador), Ed. Brasiliense, tel. (11) 6198-1488 , 42,40 reais


Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/contacao-historias-431368.shtml
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/arte-contadores-historias-424043.shtml

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